Na prática clínica, o retorno da alimentação após operações abdominais é lento. O receio do paciente em interferir na cicatrização, a presença de náuseas ou dor abdominal, além da resistência do próprio cirurgião são alguns fatores associados.
O jejum prolongado no pós-operatório tem impacto negativo na recuperação. O déficit calórico/proteico e a hidratação venosa excessiva favorecem acúmulo de água, distensão abdominal, náusea e vômitos e ganho de peso irreal.
Mas afinal, como devemos orientar a progressão da dieta?
Após quatro a oito horas do procedimento cirúrgico, o peristaltismo do intestino delgado já se encontra presente. A ingestão de líquidos pode ser iniciada com segurança horas após o ato operatório na maioria dos pacientes, sem comprometimento da cicatrização de anastomoses, desde que o paciente esteja desperto, estável hemodinamicamente e sem náuseas ou vômitos.
A realimentação precoce faz parte da rotina de cuidados perioperatórios baseados em protocolos multimodais de aceleração da recuperação pós-operatória. Outras medidas deste programa são: informação pré-operatória, mobilização precoce, uso de goma de mascar e medicamentos procinéticos, restrição de analgésicos opióides e líquidos intravenosos.
A recomendação atual é evitar períodos exagerados de jejum e incentivar a dieta oral precoce, de acordo com a vontade do paciente, sem indicação de progressão lenta da consistência, por exemplo, evoluindo de dieta oral líquida para pastosa e posteriormente sólida.
A realimentação precoce é segura e benéfica para o paciente pois reduz a incidência de complicações infecciosas, diminui tempo de internação e custos hospitalares.